domingo, 10 de agosto de 2008

Lenda da Enfermeira


Quando Deus criou a enfermeira, teve de fazer horas suplementares.

Era o sexto dia. Disse-lhe o Anjo: “Senhor, há muito tempo que trabalhais para fazer esse modelo!”. Deus respondeu-lhe: “Já pensaste na longa lista de símbolos especiais escritos nesta encomenda? A obra tem de ser entregue sob a forma masculina e feminina, fácil de desinfectar, sem despesas de conservação e não pode ser de plástico. Ela deve ter nervos de aço, costas que resistam a toda a aprovação, sendo ao mesmo tempo dócil e graciosa, para se poder sentir à vontade nos quartos de serviço demasiado pequenos. Deve poder fazer cinco coisas ao mesmo tempo, tendo o cuidado de manter sempre uma mão”. O Anjo abanou a cabeça e disse: “ Seis mãos, isso é uma coisa impossível”. Deus respondeu: “ A dificuldade não está aí. O que me preocupa são os três pares de olhos que deve ter o modelo padrão”; dois olhos para ver à noite através das paredes, durante as velas e para vigiar duas unidades; dois olhos atrás da cabeça para ver aquilo que não gostariam que ela visse, mas de que tem que ter absoluto conhecimento e, seguramente, dois olhos de frente, que olham para o paciente e lhe dizem: compreendo-vos, estou aqui, não se preocupe”.

O Anjo puxou-lhe gentilmente pelo braço e disse-lhe: “Ide dormir Senhor, amanhã de manhã continuareis”. “Não posso”, respondeu o Senhor. Já consegui que raramente adoeça e se saiba tratar a si mesma. Aceita que 10 quartos duplos acolham 40 doentes, mas nunca que dez postos de trabalho sejam apenas providos com 5 enfermeiros. Gosta da sua profissão, que exige muito dela e não é muito bem paga. Sabe viver com horários irregulares e aceita ter poucos tempos livres”.

O Anjo andou lentamente à volta do modelo da enfermeira e suspirou: “O material é demasiado mole”.
Deus replicou: “Mas é tenaz.
Tu não imaginas tudo o que ela pode pensar?” “Não somente pensar, mas avaliar uma situação e tomar um compromisso”, disse o Senhor.

O Anjo inclinou-se mais sobre o modelo e passou-lhe o dedo pela face. “Vejo aqui uma fenda” disse ele. “Já vos disse que experimentais demasiadas coisas no vosso modelo”.
“Essa fenda é feita por uma lágrima!” “Porquê?” “Ela corre nos momentos de alegria, de tristeza, de decepção, de dor e desamparo” explicou Deus.
“É a lágrima que serve de tudo, de escape para o excedente”.


AD